Depressão e ansiedade são as causas mais comuns dos problemas da memória

23-11-2010 18:42

 

Depressão e ansiedade são as causas mais comuns dos problemas da memória

 
Os problemas da memória são habitualmente associados ao envelhecimento e às demências, mas a depressão, a ansiedade e as perturbações da atenção são as suas causas mais comuns na população geral.

 

 
Quem o diz é a médica Belina Nunes num livro agora editado pela Lidel em que reúne informação sobre os últimos avanços na investigação em Neurociências sobre o modo de funcionamento da memória, as condições que o afectam e as técnicas para o seu aperfeiçoamento.

"Da memória apenas valorizamos a omissão e no entanto ela está presente e a funcionar nas 24 horas do dia e muito particularmente durante o sono", disse à Lusa esta neurologista, segundo a qual esse funcionamento é influenciado por condições físicas e psíquicas comuns, como a privação de sono ou o stress crónico".

O livro "Memória - Funcionamento, Perturbações e Treino" - que contou com a colaboração de psiquiatras, psicólogos e neurologistas - reúne uma série de textos sobre a construção da memória e os seus problemas, a influência do envelhecimento e das doenças associadas, e ainda sobre as técnicas de recuperação e melhoria.

Sobre as demências, e em particular sobre Alzheimer - tema de um trabalho científico em dois volumes que publicou em 2006 e 2007 juntamente com a psicóloga Joana Pais - Belina Nunes refere a existência de "inúmeros factores de risco que importa combater o mais cedo possível na vida".

"A demência demora muito provavelmente vários anos a manifestar-se e a sua ocorrência está intimamente relacionada com a hipertensão arterial, a diabetes e a dislipidemia (aumento anormal de lípidos no sangue)", explicou à Lusa esta especialista, responsável pela consulta de demências do Serviço de Neurologia do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.

Outros factores reconhecidos como importantes na génese da demência são o analfabetismo, a baixa escolarização e a ausência de estimulação intelectual ao longo da vida, acrescentou a investigadora, que preconiza "um melhor controlo dos factores de risco vascular, de modo a diminuir a prevalência das demências nas próximas gerações e assegurar um melhor envelhecimento".

A memória, na sua perspectiva, representa "um arquivo único e irrepetível" para o qual se aplica o mesmo princípio que a qualquer outra função do corpo, ou seja, "o que não se usa perde-se", devendo por isso ser continuamente activado.

A estimulação e o treino da memória e de outras funções cognitivas são necessários mesmo em doenças degenerativas, como as demências.
Trata-se daquilo a que a neurologista chama "a fisioterapia do cérebro", ou seja, um programa regular de estimulação intelectual que, em casos de declínio cognitivo, deve acompanhar a medicação.

Belina Nunes é directora da Clínica de Memória, no Porto, que acolhe pacientes com perturbações da memória e onde é feita uma avaliação médica e neuropsicológica antes de qualquer plano de tratamento.

Na maioria dos casos benignos, "as etapas da avaliação resumem-se ao diagnóstico da causa subjacente às queixas, ao tratamento de uma eventual depressão, ansiedade ou outra qualquer situação patológica, e em prestar ao doente orientações práticas para o seu dia-a-dia".

Quanto aos casos de demência, precisou, "a abordagem passa forçosamente pelo envolvimento da família no tratamento do doente, com acompanhamento diferenciado ao longo das diferentes etapas da doença".